×

Aliança de veículos americanos quer limitar “duopólio” de Google e Facebook

A News Media Alliance, uma aliança comercial composta por mais de 2 mil empresas de mídia dos Estados Unidos e Canadá, entrou na segunda-feira (10) com um pedido no congresso americano para ampliar seu poder de negociação contra o que chamou de “duopólio digital”, formado pelo domínio do Google e Facebook na distribuição de notícias e de publicidade digital.

A organização classificou como antiquadas as leis americanas antitruste que acabaram por provocar "o efeito não desejado de preservar e proteger a posição dominante do Google e do Facebook", limitando aos publishers a “capacidade de promover mudanças em conjunto”.

Formada por alguns dos maiores publishers dos EUA, como New York Times e Wall Street Journal, a News Media Alliance reportou a situação na qual os veículos se encontram hoje diante do duopólio. Segundo ela, os publishers são forçados a entregar seus conteúdos e jogar conforme as regras das gigantes sobre como notícias e informações são distribuídas, priorizadas e monetizadas.

De acordo com o comunicado oficial, o objetivo é fortalecer os publishers para que sejam capazes de enfrentar as duas gigantes com a garantia de um modelo de negócios que assegure a qualidade e a saúde a longo prazo das empresas de jornalismo. Assim, a organização quer ganhar musculatura e respaldo da lei para estabelecer políticas de proteção à propriedade intelectual mais fortes, ampliar modelos de assinaturas digitais e promover uma distribuição mais justa de receitas e dados dos clientes.

"O jornalismo de qualidade é essencial para sustentar a democracia e fundamental para a sociedade civil. Para garantir que esse jornalismo tenha um futuro, as organizações de notícias que o financiam devem negociar coletivamente com as plataformas digitais que efetivamente controlam a distribuição e o acesso do público na era digital”, declarou David Chavern, presidente e CEO da News Media Alliance.

Publishers em desvantagem

Juntas, Google e Facebook devem abocanhar mais de 60% dos investimentos em publicidade digital nos Estados Unidos este ano, segundo estimativas do eMarketer. De acordo com David Chavern, da News Media Alliance, as duas empresas respondem por mais de 70% dos US$ 73 milhões gastos anualmente em publicidade digital, além de ficarem com a maior parte do parte do crescimento desse mercado, já que quase 80% do tráfego referente vêm das duas gigantes.

Mesmo repassando uma parte da receita de algumas plataformas para os grupos de mídia, o presidente da aliança lembrou que as gigantes não arcam os custos da produção desses conteúdos. “Google e Facebook não empregam repórteres. Elas não investigam os registros públicos para descobrir casos corrupção, não enviam correspondentes para zonas de guerra ou participam do jogo da noite passada para obter os destaques".

Em contrapartida, Facebook e Google vêm conduzindo esforços para ampliar as garantias dos veículos. As duas empresas manifestaram-se em comunicados à AFP, esclarecendo que estão dispostas a ajudar os publishers na transição para o digital e pretendem continuar com esse trabalho, apresentando novas soluções.

Raio-x Brasil

Mesmo com a dominância da TV, o Facebook é principal fonte de notícias dos brasileiros nas grandes cidades, conforme revelou um estudo recente da Reuters Institute com a Universidade de Oxford. Cerca de 57% dos entrevistados usam a rede social para se informarem, percentual que sofreu queda de 12 pontos em relação ao ano anterior graças ao avanço do Whatsapp (46%), também do Facebook.

Intitulado Digital News Report, o levantamento também mostrou que a circulação dos cinco jornais impressos com maior número de assinaturas caiu 8% em comparação ao número de cópias vendidas em 2015, muito por conta dos impactos da recessão econômica. A crise também levou ao fechamento de sete jornais impressos brasileiros, como o Jornal do Comércio.

Apesar da queda na circulação, o número de assinaturas digitais cresceu graças à adoção de modelos de pagamento eletrônico pelos veículos. No ano passado, a Folha de S. Paulo, jornal mais vendido no país, anunciou que sua circulação digital ultrapassou a edição impressa. Mesmo assim, a pesquisa indica que o número de brasileiros de grandes cidades dispostos a pagar por notícias na internet não se alterou.