×

Questão de gênero na ad tech: um paradigma a ser quebrado

A área de tecnologia e mídia digital sempre foi dominada por homens, antes e depois de Gates e Jobs, como pontua Paola Zingman, CEO da Arabella. Nesse ambiente predominantemente masculino, as mulheres precisaram se provar diariamente até ocuparem cargos de liderança nas empresas do setor. Uma inspiração para outras mulheres que sonham em trilhar os mesmos caminhos.

Lara Krumholz (diretora geral da DynAdmic para América Latina), Leila Guimarães (country manager da Adsmovil), Riza Soares (diretora geral da smartclip), Cris Camargo (diretora executiva do IAB Brasil) e Paola Zingman (CEO da Arabella) têm muito mais em comum do que o fato de serem mulheres e trabalharem no mercado de mídia digital. Elas fazem parte de uma minoria: apenas 31,3% da mulheres ocupam cargos de gerência no Brasil, 11% participam dos conselhos administrativos e 13,6% das cadeiras executivas, segundo levantamento do Instituto Ethos.

Mesmo com o nível de instrução superior aos homens, a participação das mulheres ainda é restrita nas posições hierárquicas, sem falar que elas chegam a ganhar salários até 25,6% menores do que seus colegas do sexo masculino nos mesmos postos, de acordo com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

No Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, o ExchangeWire Brasil reúne histórias de vida e desafios profissionais dessas mulheres, que conquistaram as posições mais altas de suas empresas, para inspirar outras mulheres e, sobretudo, lembrar que ainda há muitas barreiras a serem rompidas em nosso setor.  

Lara Krumholz, diretora geral da DynAdmic para América Latina.

Acredite no seu potencial!

Ser a única mulher presente em reuniões corporativas pelo mundo afora é algo comum para Lara Krumholz, francesa que se mudou para o Brasil para assumir a diretoria geral da DynAdmic para América Latina. A executiva revela que se sentiu ‘sozinha’ muitas vezes no segmento de empresas de tecnologia, mesmo assim pôde encontrar apoio.

“Esse universo é dominado por homens, portanto foram deles os maiores apoios que tive na carreira. Eles me ajudaram a superar desafios e chegar na minha posição atual”. Contudo, frequentemente teve que enfrentar comentários machistas de profissionais, clientes e concorrentes - que sugeriam que ser mulher poderia lhe dar vantagens na dinâmica comercial. Ela nunca se intimidou e preferiu responder destacando ainda mais sua competência. Felizmente, Lara enxerga que a sociedade está evoluindo no que diz respeito à valorização do papel das mulheres nas empresas, e percebe que há cada vez menos comentários como esses.

Mãe de um recém-nascido, a executiva tem vivenciado atualmente seu maior desafio: equilibrar vida profissional e pessoal. No dia a dia, se divide para conciliar os dois lados, e para tanto conta com o apoio integral de seu marido. O suporte também veio do chefe, que lhe deu liberdade para gerenciar seu tempo, e da equipe: “o sucesso é sempre um sucesso em equipe e resultado de parcerias. Ninguém chega ao topo sozinho”.

Para as mulheres que buscam construir uma carreira de sucesso na tecnologia, Lara Krumholz entende que o primeiro passo é acreditar no próprio potencial. Ela também aconselha: "procure apoio externo e mentores, sejam homens ou mulheres, para te orientar; sempre procure personalidades femininas e converse com elas para compartilhar experiências, por exemplo, o grupo chamado “girls in Tech. Como nosso segmento ainda é dominado por homens, é comum o crescimento de mulheres nessa área vir apenas de homens em posição alta, que oferecerão oportunidades”.

Leila Guimarães, country manager da Adsmovil.

Um paradigma a ser quebrado

Sendo mulher, Leila Guimarães sempre soube que teria que se provar muito mais e, por isso, arregaçou as minhas mangas e foi à luta. “Usei esse fato como combustível e confesso que não foi tão pesado assim”, compartilha.

Antes de se tornar country manager da Adsmovil no Brasil, Leila Guimarães vivenciou seu maior desafio profissional ao assumir uma posição de gestão de pessoas, quando foi promovida à gerente de publicidade no portal Terra, depois de 7 anos na empresa. Na ocasião, passou a gerir três executivos de vendas que juntos respondiam por 40% das receitas de publicidade do portal. Um desafio enorme do ponto de vista financeiro, mas muito maior em termos humanos: motivar uma equipe, e ao mesmo tempo manter o foco nos resultados.

Essa etapa contribuiu decisivamente para que ela galgasse anos depois uma posição de liderança de umas das grandes ad techs do mercado. “Aprendi que algumas coisas funcionavam muito bem: dar o exemplo, trabalhar duro, delegar e cobrar resultados, ser transparente, humana, curiosa, não ter preguiça para entender diferentes tecnologias e nunca parar de aprender”.

Entre acertos e também erros, a executiva comemora que conseguiu atingir os principais objetivos propostos pelas empresas onde trabalhou, mas o mais importante é ser reconhecida pelas pessoas como uma profissional ética e boa gestora. A country manager também ressalta que é fundamental para as empresas de tecnologia valorizarem o profissionalismo, sem diferenciar homem ou mulher - a Adsmovil sempre apoiou o talento feminino e crê na liderança das mulheres na indústria Tech, adiciona. 

“Sejam curiosas, estudem, aprendam, experimentem e lancem suas ideias nos momentos que elas forem adequadas. Vocês irão perceber que são muito mais capazes do que imaginam e que a questão do gênero em relação à tecnologia, é só mais um paradigma para ser deliciosamente quebrado”, aconselha a outras mulheres.

Riza Soares, diretora geral da smartclip.

A mulher como agente de mudança

Filha de uma mulher à frente de seu tempo, Riza Soares, diretora geral da smartclip, pôde se espelhar desde cedo na figura da mãe, uma mulher que destacou em seus trabalhos como  vereadora, escritora e artista plástica. O exemplo dentro de casa tornou Riza uma mulher destemida e permitiu que ela se arriscasse ainda muito jovem em uma carreira em um setor que estava apenas começando no Brasil, o da Internet, quando ainda havia pouco conhecimento.

“Correr riscos e ir atrás do que eu acreditava, talvez tenha me ajudado a chegar até aqui, sem deixar que me imputassem a barreira sexista de ser mulher, em um setor cuja presença masculina é ainda maioria”, comenta.

Dona de uma história profissional totalmente dedicada à tecnologia, a executiva enxerga que o setor precisa avançar de forma a contribuir igualmente para toda a sociedade: “a tecnologia é algo fluido, que está intimamente ligado à inovação e a transformação do ser humano, independente se é uma mulher ou um homem. Para que este setor avance de forma equilibrada, refletindo ganhos para a sociedade como um todo, será cada vez mais necessário a presença da mulher como protagonista e agente de mudança”.

Sem dúvidas,  o conhecimento foi o caminho que  levou Riza Soares a trilhar uma carreira de sucesso, somado a uma boa dose de coragem: “as mulheres que querem crescer no mercado de tecnologia devem buscar sempre conhecimento, antes demais nada, e não ter medo de se posicionar e de se lançar ao novo”.

Cris Camargo, diretora executiva do IAB Brasil.

Encontre seu espaço!

Ao longo de sua carreira, a diretora executiva do IAB Brasil, Cris Camargo, também enfrentou inúmeros desafios pelo fato de ser mulher. Em agências de publicidade, o desafio era diário para conquistar respeito em um ambiente regado ao machismo velado. Casar e ser mãe, ocupando uma posição de atendimento em agências, era algo inadmissível, segundo ela. “E no varejo, uma apologia ao comportamento grosseiro acabou por forjou nela uma certa “casca” de comportamento bem ríspido”, relembra.

A saída encontrada por Cris foi reconhecer que não se encaixava mais nesses ambientes e buscar a troca. De lá para cá, foram várias movimentações profissionais até conseguir encontrar um ambiente equilibrado. Hoje, como uma das mulheres mais importantes do IAB Brasil, a diretora executiva conquistou voz ativa no mercado de publicidade digital, sendo a única mulher no board da entidade, respaldada por outras figuras femininas líderes de comitês.

“Meu conselho para as outras mulheres sempre é o trabalho e o resultado brilhante. Não há machismo ou feminismo que superem um ser humano brilhante. Encontrar seu espaço, pois sempre haverá espaço para bons profissionais.Respirar fundo, trabalhar e trabalhar”, recomenda Cris Camargo.  

Paola Zingman, CEO da Arabella.

De igual para igual

A área de mídia digital e tech, sempre foi dominada por homens antes e depois de Gates e Jobs, evidencia Paola Zingman, CEO da Arabella. Nesse ambiente majoritariamente masculino, o  fato de ser mulher, sem dúvida é um desafio diário e não foi diferente para uma das maiores especialistas de publicidade digital do país.

Até assumir a posição de liderança da agência multinacional, Paola Zingman lembra que precisou superar vários obstáculos. “Estamos em um mercado machista e é bastante difícil abrir caminho”. Apesar das barreiras enfrentadas, a executiva entende que as mulheres contam com uma carta na manga para se destacarem no mercado: percepção e sensibilidade.

“Temos que entender que, o que importa é a qualidade e não a quantidade de tempo, que dedicamos a cada papel que temos na vida. Meu conselho para outras mulheres é acreditar na nossa capacidade, não se diminuir por ser mulher, pelo contrário, ser mulher tem muitas vantagens. Falar de igual para igual e ganhar o nosso espaço, sempre exigindo respeito”, acredita.