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Aquisição do LinkedIn pela Microsoft fortalece estratégia de dados, mas tem sinergia questionável

Na segunda-feira (13), a Microsoft anunciou a aquisição do LinkedIn em um acordo no valor de US$ 26,2 bilhões que veio como surpresa para muitos, por uma série de razões. Para avaliar esse grande negócio, Lindsay Rowntree, do ExchangeWire UK, entrevistou alguns executivos da indústria para avaliar o que está por trás da negociação. (Texto traduzido do original)

O acordo gerou surpresas por várias razões. Primeiramente, o LinkedIn não é realmente uma empresa rentável. Os resultados de 2015 da companhia apontam para perdas de US$ 166 milhões, enquanto o lucro aparece mais positivo, em US$ 71 milhões, mas que certamente levaria analistas a questionarem por que LinkedIn atingiu um preço de venda tão alto.

Em segundo lugar, a natureza da aquisição pela Microsoft certamente não foi baseada no passado: a compra dos ativos de telefonia móvel da Nokia por US$ 7,6 bilhões em 2014, que foi amortizada apenas um ano depois; a compra do Yammer em 2012 por US$ 1,2 bilhão, que não tem contribuído com o objetivo de ser uma plataforma social corporativa líder, e só agora está recebendo uma reformulação, quatro anos após a compra; a aquisição do Skype por US$ 8,5 bilhões em 2011, que foi essencialmente mantido de lado por cinco anos antes da Microsoft anunciar uma revisão da estratégica; e compra da Quantive por US$ 6,3 bilhões em 2007, onde a Microsoft acabou eliminando o negócio cinco anos depois da aquisição. A Microsoft certamente tem um histórico de aquisição de altos e baixos.

Em terceiro lugar, é difícil entender por que a Microsoft teria qualquer interesse no LinkedIn, sendo que os dois parecem operar em mundos diferentes e que não necessariamente se alinham.

De acordo com o comunicado oficial, a Microsoft "procura fazer valer cada pessoa e organização do planeta" e eles acreditam que sua nuvem própria e a rede do LinkedIn vão gerar oportunidades. Embora seja possível que muitos dos 433 milhões de membros do LinkedIn provavelmente já utilizem, de alguma forma ou de outra, a suíte de produtos da empresa de tecnologia; então, está muito mais para um caso de enriquecimento de dados first-party do que a aposta em uma audiência nova. Os dados são uma oportunidade de ouro para a Microsoft desenvolver sua oferta social corporativa – algo que iludiu a companhia no passado.

Do ponto de vista do consumidor, pode haver alguns benefícios potenciais na fragmentação menor entre os perfis sociais. A capacidade de casar informações de perfil do LinkedIn com Outlook, Skype, ou perfis Yammer seria vantajoso, mas apenas para clientes corporativos da Microsoft. No entanto, isso poderia ter sido integrado sem um preço de etiqueta no valor de US$ 26,2 bilhões. Opções semelhantes já existem dentro de extensões do navegador do Gmail, permitindo que você conecte o e-mail do remetente ao perfil do LinkedIn, direcionando diretamente dentro do Gmail.

Todos os olhos estarão direcionados à Microsoft e ao LinkedIn ao longo dos próximos meses e anos para saber como o apoio da empresa de tecnologia irá ajudar a desenvolver a oferta e eficácia da rede social corporativa de forma integrada ao conjunto de produtos da Microsoft.

O ExchangeWire procurou a opinião dos líderes da indústria para entender a motivação por trás da última aquisição da Microsoft.

Uma ameaça real para a Salesforce

"O principal negócio da Microsoft é construído em torno de software de produtividade empresarial. Eles têm sido cada vez mais ameaçados por todos os tipos de players competindo pela pole position neste espaço. Temos o Google e Facebook, duas das maiores empresas de tecnologia do mundo, com propostas de consumo sólidas, que se inclinaram fortemente para essa área empresarial, com o Facebook for Work e Google for Work. Não fazer nada não era uma opção para a Microsoft. O LinkedIn é uma das melhores ferramentas novas de negócios/vendas no mundo B2B e, em muitos aspectos, compete de frente com a Salesforce. Quando a Microsoft integra o LinkedIn com sua suíte de CRM, Dynamics, o que você tem é uma ferramenta extremamente poderosa que é de fato diferenciada e que representa uma ameaça real para a Salesforce. Então, em suma, um brilhante e ousado movimento da Microsoft, e se alguém vai se sentir incomodada com o negócio, é a Salesforce. Devemos esperar algum tipo de anúncio por deles nos próximos meses." – Julie Langley, parceiro da Results International

Um encaixe estratégico ainda não muito claro

“A primeira coisa é: este acordo não é sobre a publicidade – que não é o core business dessas empresas. A Microsoft está apostando no LinkedIn como um ativo estratégico que pode ajudar a acelerar as vendas e adoção de seus negócios de software – neste caso, provavelmente o Office365. Não fica claro imediatamente para mim como se dá o encaixe estratégico – sinceramente, este negócio é mais para aliviar a tensão da Microsoft no primeiro momento. Mas, claramente, a companhia vê sinergia e estava disposta a pagar um valor enorme pela a oportunidade.” – Matthew Greitzer, cofundador e COO da Accordant Media

É tudo sobre dados

"Muitos dizem que os dados são o petróleo do século 21; e a aquisição de LinkedIn pela Microsoft vem de alguma forma para dar suporte a isso. O LinkedIn pode não se gabar por ter mais usuários que o Twitter, mas é a profundidade de dados de cada um desses membros profissionais que o torna tão valioso no ecossistema da publicidade digital de hoje. Com dados primários tão ricos, agora disponíveis na ponta dos dedos da Microsoft, será possível reunir conhecimentos incomparáveis na comunidade profissional. A Microsoft agora pode relacionar os dados do uso de seu conjunto de produtos Office com os dados de consumo sociais e de conteúdo do perfil do LinkedIn de um mesmo usuário – estes, combinados, e se usados corretamente, criam um enorme potencial para segmentação de anúncios e monetização de oportunidades. A personalização que será conferida àqueles que possuem acesso a este conjunto de dados será grande. Eu acho que nós realmente veremos Microsoft e LinkedIn conectarem o mundo profissional.” – Giovanni Strocchi, CEO da ADmantX